O que é o “oxigênio negro” produzido a 4 mil metros de profundidade no oceano

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Nas profundezas do Pacífico, existe uma espécie de “bateria natural” que seria capaz de gerar oxigênio. Se comprovada, descoberta pode dar novas perspectivas sobre o surgimento da vida no planeta

Depois de mais de 10 anos de investigação, uma equipe de pesquisadores conseguiu finalmente explicar um estranho fenômeno de produção de oxigênio a cerca de 4 km abaixo da superfície no Oceano Pacífico. A descoberta foi publicada nesta semana na revista Nature Geoscience, e pode dar novas perspectivas sobre a origem da vida na Terra.

Até agora, os cientistas acreditavam que o oxigênio do planeta vinha essencialmente de organismos fotossintéticos, como plantas, algas e fitoplâncton. Porém, o novo estudo fornece evidências de que uma fonte adicional do elemento, essencial à vida, pode ser encontrada em águas profundas.

Desde 2013, o monitoramento a Zona Clarion-Clipperton, uma região de 4,5 km² no Oceano Pacífico, indica a presença de níveis elevados de oxigênio em pontos extremamente distantes da superfície. O registro surpreendeu os especialistas, uma vez que a localização não conta com a presença dos raios solares para estimular a fotossíntese.

Durante muito tempo, imaginou-se que isso era apenas fruto de um erro de análise. Mas, após obter os mesmos resultados em diferentes medições, os pesquisadores resolveram investigar o caso mais a fundo. Foi então que o grupo identificou que nódulos polimetálicos (rochas minerais semelhantes ao carvão) presentes no assoalho eram os responsáveis pela produção do tal “oxigênio negro” — como ficou conhecido.

Oxigênio negro

Por meio de amostras da água do mar e dos nódulos polimetálicos, a equipe analisou o material em laboratório para tentar entender exatamente como o oxigênio negro estava se formando. Uma série de experimentos indicou que não se tratava de um processo biológico, mas, sim, algo químico próprio dos minerais.

À CNN, Andrew Sweetman, líder do estudo, conta que o insight sobre a possibilidade de um processo eletroquímico foi engatilhado por um documentário sobre mineração em alto mar que assistiu. “E se esses materiais que os empresários querem minerar para fazer baterias realmente fossem baterias naturais?”.

Correntes elétricas, mesmo de uma pilha AA, quando colocadas em água salgada, pode dividir o H2O em moléculas de hidrogênio e oxigênio. Esse processo é conhecido como eletrólise, e pode estar por trás da presença do “oxigênio negro”.

Dito e feito. Usando um multímetro para medir pequenas tensões elétricas, os pesquisadores registraram leituras de 0,95 V na superfície dos nódulos polimetálicos. Apesar das leituras serem menores do que a voltagem de 1,5 necessária para a eletrólise, elas sugerem que tensões elétricas mais significativas poderiam ocorrer quando as pedras se agrupavam.

“Parece que descobrimos uma ‘geobateria’ natural”, aponta Franz Geiger, coautor do projeto. “Essas geobaterias são a base para uma possível explicação da produção de oxigênio negro do oceano”.

Possíveis consequências da descoberta

Se comprovados, os resultados deste estudo podem criar novas bases para o estudo da origem da vida na Terra. “O fato de termos outra fonte de oxigênio no planeta além da fotossíntese tem consequências e implicações que são totalmente profundas”, afirma Nick Owens, diretor da Associação Escocesa de Ciências Marinhas (SAMS), em entrevista ao jornal Al Jazeera.

Uma teoria antiga, por exemplo, versa que a vida evoluiu em fontes hidrotermais profundas. Assim, a descoberta de que a eletrólise da água do mar poderia formar oxigênio nas profundezas poderia dar mais fôlego a essas hipóteses.